IELP NA MÍDIA | Covid-19: Mesmo com programa nacional, estados mantêm planos de vacinação independentes

Espe­ci­a­lis­tas, no entan­to, defen­dem pri­o­ri­da­de do gover­no naci­o­nal; SP pre­ten­de iní­ci­ar no dia 25 de janeiro

SÃO PAULO — O anún­cio do Pla­no Naci­o­nal de Imu­ni­za­ção (PIN) pelo Minis­té­rio da Saú­de não levou gover­na­do­res a desis­ti­rem de seus pro­je­tos de pro­mo­ver cam­pa­nhas pró­pri­as de vaci­na­ção con­tra o novo coro­na­ví­rus em seus esta­dos. O secre­tá­rio da Saú­de de São Pau­lo, Jean Gorin­ch­teyn, rea­fir­mou que a vaci­na­ção no esta­do deve come­çar no dia 25 de janei­ro, depen­den­do ape­nas da libe­ra­ção, pela Anvi­sa, da Coro­na­Vac, o imu­ni­zan­te desen­vol­vi­do pelo Ins­ti­tu­to Butan­tan e pela chi­ne­sa Sinovac.

O minis­tro da Saú­de, Edu­ar­do Pazu­el­lo, afir­mou que a cam­pa­nha naci­o­nal de vaci­na­ção deve come­çar em mea­dos de janeiro.

— Não pode­mos espe­rar que o sis­te­ma de saú­de colap­se. Em São Pau­lo, ini­ci­a­re­mos em 25 de janei­ro — dis­se Gorinchteyn.

O gover­na­dor do Mara­nhão, Flá­vio Dino (PCdoB), tam­bém deci­diu man­ter a estra­té­gia de um pla­no esta­du­al, como for­ma de se pre­ca­ver a pos­sí­veis mudan­ças de rumo do gover­no federal.

— Temos o pla­no A e o pla­no B. O pla­no A é o Pla­no Naci­o­nal de Imu­ni­za­ção (PNI). Ago­ra, por outro lado, assi­nei um pro­to­co­lo com o Butan­tan para com­prar 500 mil vaci­nas para poder come­çar aqui caso o pla­no naci­o­nal dê algum tipo de entra­ve. Com Bol­so­na­ro, sem­pre con­vém a gen­te se pre­pa­rar para o pior por­que ele é mui­to desor­ga­ni­za­do. Então, man­te­nho as duas estra­té­gi­as — afir­mou Dino.

Nes­ta quin­ta-fei­ra, Dino obte­ve vitó­ria no Supre­mo Tri­bu­nal Fede­ral (STF), que con­ce­deu limi­nar para que os esta­dos pos­sam adqui­rir dire­ta­men­te vaci­nas con­tra o novo coro­na­ví­rus apro­va­das por agên­ci­as de vigi­lân­cia sani­tá­ria dos Esta­dos Uni­dos, União Euro­peia, Japão e Chi­na. O gover­no mara­nhen­se quer que os gas­tos com com­pras sejam aba­ti­dos de dívi­das do esta­do com a União.

O gover­na­dor do Cea­rá, Cami­lo San­ta­na, tam­bém pre­ten­de man­ter a sua nego­ci­a­ção para com­prar a Coro­na­Vac do Ins­ti­tu­to Butan­tan. Ao jor­nal “O Esta­do de S. Pau­lo” afir­mou ser “obri­ga­ção do gover­na­dor ir atrás de qual­quer vaci­na cer­ti­fi­ca­da para a população”.

Para espe­ci­a­lis­tas, no entan­to, a pri­o­ri­da­de para esta­be­le­cer o calen­dá­rio vaci­nal é do Minis­té­rio da Saúde.

Rapha­el Sodré Cit­ta­di­no, pre­si­den­te do Ins­ti­tu­to de Estu­dos Legis­la­ti­vos e Polí­ti­cas Públi­cas (IELP) e pro­fes­sor no Ins­ti­tu­to Bra­si­li­en­se de Direi­to Públi­co (IDP), res­sal­ta que mes­mo que já exis­ta um pla­no de imu­ni­za­ção esta­du­al, o Minis­té­rio da Saú­de tem pre­fe­rên­cia na coor­de­na­ção da vaci­na­ção da população.

Segun­do Cit­ta­di­no, a União pode­ria ten­tar inter­rom­per a cam­pa­nha em São Pau­lo, pre­vis­ta para come­çar no dia 25. Essa medi­da, entre­tan­to, é vis­ta como pou­co pro­vá­vel pelo advo­ga­do, em razão do cus­to político.

— O que ten­de a acon­te­cer é o Gover­no Fede­ral se ante­ci­par e adqui­rir o imu­ni­zan­te, e ini­ci­ar a vaci­na­ção antes do pra­zo esti­pu­la­do pelo gover­na­dor João Doria (PSDB). Se isso não ocor­rer, em tese o tema pode ser judi­ci­a­li­za­do, mas há fra­gi­li­da­des na pos­tu­ra do gover­no fede­ral que, sem dúvi­da, serão leva­das em con­ta em um momen­to de judi­ci­a­li­za­ção — afirma.

Ele cita como exem­plo a pos­tu­ra pas­si­va de se aguar­dar que o fabri­can­te soli­ci­te o registro.

— Isso cabe em cir­cuns­tân­ci­as nor­mais, mas em uma pan­de­mia que viti­ma cen­te­nas de milha­res de pes­so­as, é de se espe­rar uma pos­tu­ra pro­a­ti­va do gover­no cen­tral em adqui­rir o pri­mei­ro imu­ni­zan­te segu­ro dis­po­ní­vel no mun­do, no pra­zo mais céle­re possível.

Ex-desem­bar­ga­do­ra e espe­ci­a­lis­ta na área de Medi­ci­na, a advo­ga­da Cecí­lia Mel­lo afir­ma que o gover­no de São Pau­lo até pode come­çar a vaci­nar con­tra o coro­na­ví­rus antes do iní­cio da cam­pa­nha naci­o­nal orga­ni­za­da pelo gover­no fede­ral, mas des­de que o imu­ni­zan­te tenha sido apro­va­do pela Anvi­sa e que sejam segui­dos os parâ­me­tros do Pla­no Naci­o­nal de Imu­ni­za­ção – entre eles a pre­fe­rên­cia dos públi­cos-alvo para imu­ni­za­ção, como ido­sos, indí­ge­nas e qui­lom­bo­las, entre outros.

— Se o esta­do esti­ver com o abas­te­ci­men­to neces­sá­rio, não have­rá irre­gu­la­ri­da­de inclu­si­ve se avan­çar eta­pas. Não vejo impe­di­men­to em adi­an­tar a vaci­na­ção de alguns gru­pos se o calen­dá­rio for cum­pri­do. Seria absur­do ter a vaci­na, já ter vaci­na­do deter­mi­na­dos gru­pos e não poder seguir adi­an­te. Seria con­tra o inte­res­se públi­co — diz Cecí­lia Mello.

O sani­ta­ris­ta Rei­nal­do Gui­ma­rães, vice-pre­si­den­te da Asso­ci­a­ção Bra­si­lei­ra de Saú­de Cole­ti­va (Abras­co), por sua vez, acre­di­ta que a dis­pu­ta polí­ti­ca em tor­no da vaci­na foi supe­ra­da e que o Bra­sil tem ago­ra um pla­no naci­o­nal de imu­ni­za­ção, com cam­pa­nha naci­o­nal bem mais com­ple­xa do que as fei­tas até hoje.

— Tere­mos uma cam­pa­nha naci­o­nal, com mais de um tipo de vaci­na, o que tor­na o sis­te­ma de dis­tri­bui­ção bem mais com­ple­xo — diz Guimarães.

Para Gui­ma­rães, é pou­co pro­vá­vel que, depois do acer­to com o Minis­té­rio da Saú­de, o gover­no de São Pau­lo quei­ra imple­men­tar um pla­no paralelo.

— Ago­ra que está cla­ro que o Minis­té­rio da Saú­de vai com­prar, não acre­di­to que haja von­ta­de do gover­no de São Pau­lo e do Ins­ti­tu­to Butan­tan de ‘arru­mar encren­ca’. Seria mui­to feio.

Gui­ma­rães afir­ma que o pla­no de vaci­na­ção foi con­quis­ta­do por pres­são da soci­e­da­de e que fal­ta ape­nas a apro­va­ção das vaci­nas pela Anvi­sa. Para o sani­ta­ris­ta, as pri­mei­ras a obter aval do órgão deve­rão ser a Coro­na­Vac e a da AstraZeneca/Oxford.

O vice-pre­si­den­te da Abras­co afir­ma que o Ins­ti­tu­to Butan­tan pode­rá ven­der doses exce­den­tes para ter­cei­ros e até mes­mo expor­tar, como já ocor­re com diver­sos outros imu­ni­zan­tes pro­du­zi­dos no país.

Porém, diz ele, não fará sen­ti­do que a vaci­na seja for­ne­ci­da para gover­nos de outros esta­dos, como vinha sen­do cogitado.

— O fato é que o gover­no fede­ral sabe que per­deu essa ‘guer­ri­nha cri­mi­no­sa’. Feliz­men­te, a ques­tão está superada.

Publi­ca­do por O Glo­bo: https://oglobo.globo.com/sociedade/covid-19-mesmo-com-programa-nacional-estados-mantem-planos-de-vacinacao-independentes-24801936

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