IELP NA MÍDIA | Em meio à pressão por impeachment de Bolsonaro, Aras insinua ‘estado de defesa’ e empurra para Congresso competência sobre análise de ‘eventuais ilícitos’

Pro­cu­ra­dor-geral da Repú­bli­ca, Augus­to Aras, reco­nhe­ceu indi­re­ta­men­te que a pres­são pelo impe­a­ch­ment está cres­cen­do e aler­tou para o ris­co de ‘alas­tra­men­to da cri­se sani­tá­ria para outras dimen­sões da vida publica’

Em nota, o pro­cu­ra­dor-geral da Repú­bli­ca, Augus­to Aras, reco­nhe­ceu indi­re­ta­men­te que a pres­são pelo impe­a­ch­ment do pre­si­den­te Jair Bol­so­na­ro está cres­cen­do e aler­tou para o ris­co de ‘alas­tra­men­to da cri­se sani­tá­ria para outras dimen­sões da vida públi­ca’. No tex­to, Aras diz que pro­ces­sos por cri­me de res­pon­sa­bi­li­da­de de agen­tes públi­cos cabem ao Legis­la­ti­vo. Em outras pala­vras, cabe ao Con­gres­so, não à PGR, deci­dir sobre abrir ou não pro­ces­so de impe­a­ch­ment con­tra Bol­so­na­ro. Além dis­so, o che­fe do Minis­té­rio Públi­co Fede­ral aler­tou para pos­si­bi­li­da­de de Esta­do de Defesa.

“O esta­do de cala­mi­da­de públi­ca é a antes­sa­la do esta­do de defe­sa. A Cons­ti­tui­ção Fede­ral, para pre­ser­var o Esta­do Demo­crá­ti­co de Direi­to e a ordem jurí­di­ca que o sus­ten­ta, obs­ta alte­ra­ções em seu tex­to em momen­tos de gra­ve ins­ta­bi­li­da­de soci­al. A con­si­de­rar a expec­ta­ti­va de agra­va­men­to da cri­se sani­tá­ria nos pró­xi­mos dias, mes­mo com a con­tem­po­râ­nea vaci­na­ção, é tem­po de tem­pe­ran­ça e pru­dên­cia, em prol da esta­bi­li­da­de ins­ti­tu­ci­o­nal”, diz a nota.

Mais à fren­te, pros­se­gue: “Nes­te momen­to difí­cil da vida públi­ca naci­o­nal, veri­fi­ca-se que as ins­ti­tui­ções estão fun­ci­o­nan­do regu­lar­men­te em meio a uma pan­de­mia que assom­bra a comu­ni­da­de pla­ne­tá­ria, sen­do neces­sá­ria a manu­ten­ção da ordem jurí­di­ca a fim de pre­ser­var a esta­bi­li­da­de do Esta­do Democrático.”

A nota da PGR se dá em meio ao aumen­to da pres­são pelo impe­a­ch­ment do pre­si­den­te Jair Bol­so­na­ro. Des­de o iní­cio do man­da­to, mais de 60 pedi­dos de impe­di­men­to já foram pro­to­co­la­dos. A deci­são de aber­tu­ra de um pro­ces­so de tal teor cabe ao pre­si­den­te da Câma­ra dos Depu­ta­dos, Rodri­go Maia (DEM).

A PGR colo­cou na con­ta do Con­gres­so Naci­o­nal a aná­li­se de ‘even­tu­ais ilí­ci­tos que impor­tem em res­pon­sa­bi­li­da­de de agen­tes polí­ti­cos da cúpu­la dos Pode­res da Repú­bli­ca’. O órgão che­fi­a­do por Augus­to Aras apon­ta que seg­men­tos polí­ti­cos cla­mam por medi­das cri­mi­nais con­ta auto­ri­da­des fede­rais, esta­du­ais e muni­ci­pais e diz que ‘já vem ado­tan­do todas as pro­vi­dên­ci­as cabí­veis des­de o iní­cio da pandemia’.

Como ‘titu­lar da ação penal’, a Pro­cu­ra­do­ria-Geral da Repú­bli­ca tem com­pe­tên­cia para abrir inves­ti­ga­ções cri­mi­nais comuns con­tra o pre­si­den­te, com tra­mi­ta­ção jun­to ao Supre­mo Tri­bu­nal Fede­ral. É o caso do inqué­ri­to sobre supos­ta inter­fe­rên­cia de Bol­so­na­ro na Polí­cia Fede­ral, aber­to após a renún­cia do ex-minis­tro da Jus­ti­ça Sér­gio Moro.

A men­ção ao Esta­do de Defe­sa foi outro pon­to que cha­mou aten­ção na nota de Aras. O PGR afir­mou que o esta­do de cala­mi­da­de públi­ca decre­ta­do em fun­ção da pan­de­mia do novo coro­na­ví­rus é uma ‘antes­sa­la’ do esta­do de defe­sa – ins­ti­tu­to que esta­be­le­ce dife­ren­tes medi­das coer­ci­ti­vas e sus­pen­de garan­ti­as fundamentais

Fazer um para­le­lo entre o esta­do de cala­mi­da­de e o Esta­do de Defe­sa é no míni­mo uma impre­ci­são, apon­ta Rapha­el Sodré Cit­ta­di­no, pre­si­den­te do Ins­ti­tu­to de Estu­dos Legis­la­ti­vos e Polí­ti­cas Públi­cas (IELP). Enquan­to o pri­mei­ro é decla­ra­do estri­ta­men­te para fle­xi­bi­li­zar regras fis­cais e de con­tra­ta­ção, o segun­do é ‘um sis­te­ma de cri­se cons­ti­tu­ci­o­nal gra­vís­si­mo, que sus­pen­de ou res­trin­ge liber­da­des fun­da­men­tais ele­men­ta­res’, expli­ca o espe­ci­a­lis­ta. “De tão gra­ve, para­li­sa­ria mes­mo a hipó­te­se de refor­ma à Cons­ti­tui­ção, impe­din­do a dis­cus­são das refor­mas essen­ci­ais à reto­ma­da econô­mi­ca, a mai­o­ria por meio de PECs”, indica.

No iní­cio da pan­de­mia da Covid-19 no Bra­sil, o esta­do de defe­sa e o esta­do de sítio gera­ram for­te deba­te, com rea­ções da soci­e­da­de civil. Em mar­ço de 2020, após repor­ta­gem da revis­ta ‘Cru­soé’ mos­trar que o Palá­cio do Pla­nal­to enco­men­dou a alguns minis­té­ri­os pare­ce­res sobre um even­tu­al decre­to de esta­do de sítio por cau­sa da pan­de­mia do novo coro­na­ví­rus, a Ordem dos Advo­ga­dos do Bra­sil emi­tiu pare­cer con­si­de­ran­do a medi­da incons­ti­tu­ci­o­nal ante a nova doen­ça. O pre­si­den­te da Comis­são de Assun­tos Cons­ti­tu­ci­o­nais da enti­da­de escre­veu arti­go na mes­ma linha.

Em semi­ná­rio rea­li­za­do em abril do ano pas­sa­do, o minis­tro do Supre­mo Tri­bu­nal Fede­ral Gil­mar Men­des des­ta­cou que o decre­to de esta­do de sítio ou o de esta­do de defe­sa não estão ‘adap­ta­dos’ para o tipo de situ­a­ção que o País enfren­ta ante à pan­de­mia do novo coronavírus.

A men­ção da PGR ao Esta­do de Defe­sa tam­bém ocor­re um dia após Bol­so­na­ro dizer que as For­ças Arma­das são as res­pon­sá­veis por deci­dir se há demo­cra­cia ou dita­du­ra em um país. “Quem deci­de se um povo vai viver na demo­cra­cia ou na dita­du­ra são as suas For­ças Arma­das. Não tem dita­du­ra onde as For­ças Arma­das não a apoi­am”, afir­mou o pre­si­den­te, em con­ver­sa com apoi­a­do­res, no Palá­cio da Alvo­ra­da na segun­da, 18.

Estado de Defesa

Segun­do o arti­go 136 da Cons­ti­tui­ção, o esta­do de defe­sa tem o pre­tex­to de ‘pre­ser­var ou pron­ta­men­te res­ta­be­le­cer, em locais res­tri­tos e deter­mi­na­dos, a ordem públi­ca ou a paz soci­al ame­a­ça­das por gra­ve e imi­nen­te ins­ta­bi­li­da­de ins­ti­tu­ci­o­nal ou atin­gi­das por cala­mi­da­des de gran­des pro­por­ções na natureza’.

O ins­ti­tu­to pre­vê uma série de medi­das coer­ci­ti­vas, como res­tri­ções de direi­tos de reu­nião, de sigi­lo de cor­res­pon­dên­cia, e de comu­ni­ca­ção tele­grá­fi­ca e telefô­ni­ca. Além dis­so, o esta­do de defe­sa aca­ba com garan­ti­as como a exi­gên­cia do fla­gran­te para uma prisão.

A medi­da pode ser decre­ta­da pelo pre­si­den­te, após serem ouvi­dos os Con­se­lhos da Repú­bli­ca e o de Defe­sa Naci­o­nal, for­ma­dos pelo vice, che­fes das For­ças Arma­das, pre­si­den­tes da Câma­ra, do Sena­do, líde­res do Con­gres­so, entre outros. O decre­to é então sub­me­ti­do ao Con­gres­so, que tem dez dias para apro­vá-lo ou rejeitá-lo.

Confira a íntegra da nota da PGR

O Decre­to Legis­la­ti­vo 6, de 20 de mar­ço de 2020, reco­nhe­ceu o esta­do de cala­mi­da­de públi­ca no país até 31 de dezem­bro de 2020. Em 30 de dezem­bro, o Supre­mo Tri­bu­nal Fede­ral (STF) esten­deu a vali­da­de dos dis­po­si­ti­vos da Lei 13.979/2020, que esta­va vin­cu­la­da ao pra­zo do Decre­to Legis­la­ti­vo 6, man­ten­do em vigor as medi­das sani­tá­ri­as para com­ba­ter a pan­de­mia da covid-19.

O esta­do de cala­mi­da­de públi­ca é a antes­sa­la do esta­do de defe­sa. A Cons­ti­tui­ção Fede­ral, para pre­ser­var o Esta­do Demo­crá­ti­co de Direi­to e a ordem jurí­di­ca que o sus­ten­ta, obs­ta alte­ra­ções em seu tex­to em momen­tos de gra­ve ins­ta­bi­li­da­de soci­al. A con­si­de­rar a expec­ta­ti­va de agra­va­men­to da cri­se sani­tá­ria nos pró­xi­mos dias, mes­mo com a con­tem­po­râ­nea vaci­na­ção, é tem­po de tem­pe­ran­ça e pru­dên­cia, em prol da esta­bi­li­da­de institucional.

Seg­men­tos polí­ti­cos cla­mam por medi­das cri­mi­nais con­tra auto­ri­da­des fede­rais, esta­du­ais e muni­ci­pais. O pro­cu­ra­dor-geral da Repú­bli­ca, no âmbi­to de suas atri­bui­ções e obser­van­do as deci­sões do STF acer­ca da repar­ti­ção de com­pe­tên­ci­as entre União, esta­dos e muni­cí­pi­os, já vem ado­tan­do todas as pro­vi­dên­ci­as cabí­veis des­de o iní­cio da pan­de­mia. Even­tu­ais ilí­ci­tos que impor­tem em res­pon­sa­bi­li­da­de de agen­tes polí­ti­cos da cúpu­la dos Pode­res da Repú­bli­ca são da com­pe­tên­cia do Legislativo.

Des­de a che­ga­da do novo coro­na­ví­rus ao Bra­sil, o PGR cri­ou o Gabi­ne­te Inte­gra­do de Acom­pa­nha­men­to da Epi­de­mia Covid-19 (Giac), que, jun­ta­men­te com o Con­se­lho Naci­o­nal do Minis­té­rio Públi­co (CNMP), esta­be­le­ceu diá­lo­go e inte­gra­ção entre seg­men­tos da soci­e­da­de e auto­ri­da­des em todos os níveis de gover­no, resol­ven­do ques­tões emer­gen­ci­ais no coti­di­a­no dos ser­vi­ços de saúde.

Tam­bém tem rea­li­za­do a fis­ca­li­za­ção de ver­bas des­ti­na­das ao enfren­ta­men­to da pan­de­mia, em tra­ba­lho con­jun­to com todo o Minis­té­rio Públi­co bra­si­lei­ro e com os tri­bu­nais de con­tas, e abriu inqué­ri­tos cri­mi­nais con­tra oito gover­na­do­res sus­pei­tos de des­vi­os, ten­do um deles sido afas­ta­do do cargo.

As medi­das inten­si­fi­ca­ram-se nos últi­mos dias, dian­te do gra­ve qua­dro regis­tra­do em Manaus devi­do à fal­ta de oxi­gê­nio medi­ci­nal em hos­pi­tais. O PGR abriu inves­ti­ga­ção cri­mi­nal sobre atos envol­ven­do o gover­na­dor do esta­do do Ama­zo­nas, o pre­fei­to atu­al e o ex-pre­fei­to de Manaus por supos­ta omis­são. Requi­si­tou a ins­tau­ra­ção, pelo Minis­té­rio da Saú­de, de um inqué­ri­to epi­de­mi­o­ló­gi­co e sani­tá­rio, ins­tru­men­to usa­do pela pri­mei­ra vez, embo­ra este­ja pre­vis­to na lei des­de 1975. Soli­ci­tou escla­re­ci­men­tos ao minis­tro da Saú­de sobre sua atu­a­ção quan­to à fal­ta de oxi­gê­nio na capi­tal amazonense.

Nes­te momen­to difí­cil da vida públi­ca naci­o­nal, veri­fi­ca-se que as ins­ti­tui­ções estão fun­ci­o­nan­do regu­lar­men­te em meio a uma pan­de­mia que assom­bra a comu­ni­da­de pla­ne­tá­ria, sen­do neces­sá­ria a manu­ten­ção da ordem jurí­di­ca a fim de pre­ser­var a esta­bi­li­da­de do Esta­do Democrático.

O PGR con­ti­nu­a­rá inves­ti­gan­do atos ilí­ci­tos e con­tri­buin­do para que a ordem jurí­di­ca, cen­tra­da na Cons­ti­tui­ção e nas leis do país, seja obser­va­da, a fim de que não haja o alas­tra­men­to da cri­se sani­tá­ria para outras dimen­sões da vida pública.

Fon­te: https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/mentes-sas/

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