IELP NA MÍDIA: Prisão em CPI é rara; entenda o que diz a lei sobre falso testemunho

Pre­si­den­te da comis­são, sena­dor Omar Aziz, pediu deten­ção de Rober­to Fer­rei­ra Dias

Uma CPI pode deter­mi­nar pri­sões em fla­gran­te, no caso de fal­so tes­te­mu­nho, mas não em quais­quer cir­cuns­tân­ci­as. Os pode­res atu­ais das Comis­sões Par­la­men­ta­res de Inqué­ri­to são resul­ta­do de uma juris­pru­dên­cia cons­truí­da com base na Cons­ti­tui­ção de 1988 e vali­da­da pelo STF (Supre­mo Tri­bu­nal Fede­ral) a par­tir da pre­mis­sa de que, nes­sas comis­sões, o Legis­la­ti­vo ganha algu­mas atri­bui­ções que são exclu­si­vas do Poder Judiciário.

O poder de deter­mi­nar uma pri­são ganhou des­ta­que na tar­de des­ta quar­ta-fei­ra (7), duran­te o depoi­men­to do ex-dire­tor do depar­ta­men­to de logís­ti­ca do Minis­té­rio da Saú­de Rober­to Fer­rei­ra Dias, acu­sa­do pelo pre­si­den­te da comis­são, Omar Aziz (PSD-AM), de ter men­ti­do ao colegiado.

A lei fede­ral que cri­ou as CPIs (n. 1.579, de 1952) já pas­sou por uma série de alte­ra­ções e res­trin­giu a hipó­te­se de pri­são ao cri­me de “fazer afir­ma­ção fal­sa, ou negar ou calar a ver­da­de como testemunha”.

A mes­ma nor­ma tam­bém cri­mi­na­li­za “impe­dir, ou ten­tar impe­dir, medi­an­te vio­lên­cia, ame­a­ça ou assu­a­das, o regu­lar fun­ci­o­na­men­to da comis­são” ou “o livre exer­cí­cio das atri­bui­ções de qual­quer dos seus mem­bros”. O Códi­go Penal, em seu arti­go 342, tam­bém clas­si­fi­ca como cri­me puní­vel com reclu­são de dois a qua­tro anos e mul­ta, o ato de fazer afir­ma­ção fal­sa ou calar a verdade.

No caso de Fábio Wajn­gar­ten, a ame­a­ça de pri­são se deu pela supos­ta men­ti­ra, apon­ta­da por Renan Calhei­ros (MDM-AL) e par­te dos sena­do­res ao con­fron­tar as decla­ra­ções do ex-secre­tá­rio de comu­ni­ca­ção com uma entre­vis­ta con­ce­di­da por ele à revis­ta Veja. Mas o his­tó­ri­co de pri­sões efe­ti­va­men­te orde­na­das por uma CPI traz ocor­rên­ci­as raras.

A legis­la­ção pre­vê que pes­so­as podem ser con­vo­ca­das a ir a uma CPI e, como tes­te­mu­nhas, não podem nem men­tir nem se calar. Entre­tan­to, a Cons­ti­tui­ção tam­bém tem o prin­cí­pio da autoin­cri­mi­na­ção: nenhum cida­dão é obri­ga­do a pro­du­zir pro­vas con­tra si.

“É mui­to difí­cil che­gar nes­se pon­to”, expli­ca o pre­si­den­te do Ins­ti­tu­to de Estu­dos Legis­la­ti­vos e Polí­ti­cas Públi­cas, Rapha­el Cit­ta­di­no. “A tes­te­mu­nha sem­pre pode pedir um habe­as cor­pus”, afir­mou, ao dizer que, caso algu­ma pes­soa vá a uma CPI na con­di­ção de tes­te­mu­nha, mas tenha infor­ma­ções que pos­sam colo­cá-la na posi­ção de inves­ti­ga­do, já exis­te juris­pru­dên­cia con­so­li­da­da no Supre­mo no sen­ti­do de evi­tar o depoimento.

Nes­ses dois casos pre­vis­tos na lei que dis­põe sobre as CPIs, se a comis­são apro­va a pri­são, o deti­do é tem de ser apre­sen­ta­do a um juiz, como qual­quer pri­são em fla­gran­te. A auto­ri­da­de judi­ci­al pode rela­xar o flagrante.

Pode­res

Cit­ta­di­no des­ta­ca que, embo­ra a legis­la­ção atri­bui à CPI pode­res “pró­pri­os da auto­ri­da­de judi­ciá­ria”, não são todas as deci­sões que cer­cei­am liber­da­des ou direi­tos dos inves­ti­ga­dos que podem ser toma­das pela comissão.

“Ela pode deter­mi­nar bus­ca e apre­en­são? Não. Mas pode requi­si­tar docu­men­tos. Pode deter­mi­nar escu­tas telefô­ni­cas? Não, mas pode deter­mi­nar que­bra de sigi­los fis­cal e telefô­ni­co. No caso das con­du­ções coer­ci­ti­vas, elas já foram afas­ta­das pelo Supre­mo”, des­ta­ca Cittadino.

Além dis­so, os par­la­men­ta­res têm os mes­mos pode­res que qual­quer cida­dão tem para, em tese, pren­der outro cida­dão “em fla­gran­te deli­to” – quan­do são fla­gra­dos come­ten­do algum crime.

Nes­se caso, entre­tan­to, o poder dos par­la­men­ta­res se resu­me a cha­mar a Polí­cia Legis­la­ti­va para deter o infra­tor e levá-lo a uma auto­ri­da­de poli­ci­al, que vai ava­li­ar a pri­são antes de enca­mi­nhar o sus­pei­to para o juiz.

Foi isso que acon­te­ceu em 1999, duran­te a CPI dos Ban­cos, quan­do o ex-pre­si­den­te do Ban­co Cen­tral Fran­cis­co Lopes se recu­sou a assi­nar ter­mo em que só diria a ver­da­de. Os par­la­men­ta­res enten­de­ram que ele esta­va come­ten­do os cri­mes de deso­be­di­ên­cia e desa­ca­to, e ele foi leva­do à Polí­cia Federal.

Nas CPIs do Rou­bo de Car­gas e das Armas, em 2001 e 2006, os par­la­men­ta­res che­ga­ram a pedir a pri­são pre­ven­ti­va de sus­pei­tos. Mas em ambos os casos, os pedi­dos se deram na for­ma de reque­ri­men­tos que foram enca­mi­nha­dos ao Minis­té­rio Públi­co, que é o órgão que tem com­pe­tên­cia para reque­rer esse tipo de pedi­do à Justiça.

O rela­tó­rio final das CPIs, quan­do têm con­clu­sões sobre a prá­ti­ca de cri­mes, tam­bém são enca­mi­nha­dos ao MP para a aná­li­se de even­tu­ais delitos.

Repor­ta­gem publi­ca­da em: https://noticias.r7.com/brasil/prisao-em-cpi-e-rara-entenda-o-que-diz-a-lei-sobre-falso-testemunho-07072021

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