IELP NA MÍDIA | O que pensam Arthur Lira e Rodrigo Pacheco?

Novos pre­si­den­tes da Câma­ra e do Sena­do defen­dem refor­mas, mas ten­dem a pri­o­ri­zar pau­tas soci­ais. Inves­ti­ga­ção sobre Lira preocupa.

A Câma­ra dos Depu­ta­dos e o Sena­do Fede­ral ini­ci­a­ram esta ter­ça-fei­ra (2) com novos pre­si­den­tes. No iní­cio da noi­te de segun­da-fei­ra (1º), Rodri­go Pache­co (DEM-MG) foi elei­to pre­si­den­te do Sena­do por 57 votos con­tra 21 de Simo­ne Tebet (MDB-MS) – após uma elei­ção tran­qui­la. Horas depois, a segun­da elei­ção do dia deu a Arthur Lira (PP-AL) o car­go ocu­pa­do des­de 2016 por Rodri­go Maia (DEM-RJ).

A vitó­ria de Lira impres­si­o­nou pelo poder de ade­são à sua pla­ta­for­ma. O par­la­men­tar foi elei­to com 302 votos, con­tra 145 de Baleia Ros­si (MDB-SP), que con­ta­va com o apoio de Rodri­go Maia e havia for­ma­do uma fren­te de par­ti­dos que iam da esquer­da (PCdoB) à direi­ta (caso do PSL, que abri­ga a mai­o­ria dos depu­ta­dos pró­xi­mos ao gover­no de Jair Bolsonaro).

Foi uma inter­fe­rên­cia de Bol­so­na­ro e do Poder Exe­cu­ti­vo, porém, que come­çou a virar o jogo para Lira. A pro­mes­sa de até R$ 3 bilhões em emen­das par­la­men­ta­res rachou diver­sos par­ti­dos da base de Baleia Ros­si, que viu seu apoio se des­man­char nos últi­mos dias de cam­pa­nha. A dis­pu­ta, antes con­si­de­ra­da pare­lha, foi resol­vi­da ain­da no pri­mei­ro tur­no em prol de Arthur Lira.

Pri­o­ri­da­des

Rodri­go Pache­co fez seu dis­cur­so de pos­se no Salão Negro do Con­gres­so Naci­o­nal logo após sua vitó­ria ser con­fir­ma­da por 78 dos 81 par­la­men­ta­res (três não vota­ram). Em sua fala, Pache­co defen­deu o SUS (Sis­te­ma Úni­co de Saú­de) e indi­cou ser neces­sá­rio agir de manei­ra rápi­da e efi­ci­en­te con­tra a pan­de­mia da Covid-19. “É isso que a soci­e­da­de dese­ja de cada um de nós. A saú­de públi­ca sig­ni­fi­ca nes­te ins­tan­te valo­ri­zar cada vez mais o sis­te­ma úni­co de saú­de e per­mi­tir que a vaci­na che­gue rapi­da­men­te a todos os bra­si­lei­ros e a todas as bra­si­lei­ras”, disse.

Lira não deu entre­vis­tas cole­ti­vas depois de con­fir­ma­da sua elei­ção, mas dis­se em seu dis­cur­so de vitó­ria que tam­bém tem como pau­ta pri­o­ri­tá­ria a aten­ção à saú­de públi­ca, ain­da afe­ta­da pela pan­de­mia. “Pre­ci­sa­mos urgen­te­men­te ampa­rar os bra­si­lei­ros que estão em esta­do de deses­pe­ro econô­mi­co por cau­sa da Covid-19 e temos que exa­mi­nar como for­ta­le­cer nos­sa rede de pro­te­ção soci­al”, afir­mou, pre­gan­do equi­lí­brio nas con­tas públi­cas e um diá­lo­go trans­pa­ren­te entre soci­e­da­de e o mercado.

Nos cor­re­do­res e entre depu­ta­dos, cres­ce o con­sen­so de que tan­to Câma­ra quan­to Sena­do devem se arti­cu­lar para rea­vi­var algum tipo de auxí­lio emer­gen­ci­al – cuja últi­ma par­ce­la foi paga em dezem­bro. O fim do bene­fí­cio, jun­to a uma estag­fla­ção e desem­pre­go cres­cen­te, colo­cam a eco­no­mia bra­si­lei­ra em ris­co iné­di­to em 2021. A ques­tão é sen­sí­vel, já as con­tas públi­cas estão pró­xi­mas do des­con­tro­le: os gas­tos com a pan­de­mia aju­da­ram a dívi­da públi­ca a alcan­çar R$ 5 tri­lhões, ou 90% do PIB.

Por con­ta dis­so, tan­to Pache­co quan­to Lira têm uma agen­da econô­mi­ca rele­van­te pela frente.

“Antes de tudo, um pon­to fun­da­men­tal é o orça­men­to, que não foi vota­do ain­da”, res­sal­tou André Perei­ra Cesar, cien­tis­ta polí­ti­co. “E isso é urgen­te, por­que há pen­dên­ci­as como o dinhei­ro para as For­ças Arma­das que aca­ba em abril. Isso pre­ci­sa ser resol­vi­do antes, sob ris­co de pro­ble­mas sérios”.

O Orça­men­to de 2021 ain­da não foi vota­do e a máqui­na públi­ca está sen­do abas­te­ci­da com paga­men­tos men­sais. Em entre­vis­tas ante­ri­o­res, Lira dis­se que a ins­ta­la­ção da comis­são para apro­var o orça­men­to é pri­o­ri­da­de para o pri­mei­ro mês. Pache­co esti­ma votar até mar­ço o tema.

Há tam­bém o acor­do para vota­ção da PEC 186, que tra­ta de medi­das emer­gen­ci­ais para evi­tar o cres­ci­men­to ace­le­ra­do das des­pe­sas obri­ga­tó­ri­as e que atu­al­men­te está no Sena­do. A eles se jun­tam ques­tões como a Lei da Cabo­ta­gem, o novo mer­ca­do de gás natu­ral e a auto­no­mia do Ban­co Central.

Mas o que o mer­ca­do aguar­da mes­mo, com ansi­e­da­de, é como Lira e Pache­co darão anda­men­to para as duas prin­ci­pais refor­mas em dis­cus­são no país: a admi­nis­tra­ti­va e a tributária.

Nelas, o cien­tis­ta polí­ti­co André César apon­ta obs­tá­cu­los his­tó­ri­cos. “Des­de o gover­no Col­lor a refor­ma admi­nis­tra­ti­va é dis­cu­ti­da. FHC ten­tou, Lula ten­tou e envol­ve inte­res­ses for­tes e impor­tan­tes de gru­pos orga­ni­za­dos do setor públi­co, que legi­ti­ma­men­te defen­dem seus inte­res­ses”, comen­tou. “Inclu­si­ve acho que Maia era, na con­cep­ção pes­so­al dele da ques­tão, mais foca­do em apre­ci­ar o tema”.

Já na refor­ma tri­bu­tá­ria, o que difi­cul­ta é o núme­ro de pro­pos­tas em dis­cus­são simul­ta­ne­a­men­te – são três. “Quem tem mui­to não tem nada”, comen­tou. Nes­te sen­ti­do, tam­bém atra­pa­lha o fato de que seto­res espe­cí­fi­cos podem sair em des­van­ta­gem por con­ta de alte­ra­ção nas regras de tri­bu­ta­ção, com pou­co espa­ço para acei­ta­ção des­tes novos cenários.

Linha suces­só­ria

Lira seria, a par­tir de ago­ra, o ter­cei­ro na linha de suces­são pre­si­den­ci­al. Em caso de inca­pa­ci­da­de do pre­si­den­te Jair Bol­so­na­ro e seu vice Hamil­ton Mou­rão, cabe­ria a Lira des­pa­char, inte­ri­na­men­te, do Palá­cio do Pla­nal­to em nome do poder Executivo.

Pela pri­mei­ra vez, porém, um pre­si­den­te da Câma­ra fica impe­di­do por ser réu em ação penal no Supre­mo Tri­bu­nal Fede­ral (STF). Des­de o final do ano pas­sa­do, Lira tem con­tra si uma ação aber­ta pelo cri­me de cor­rup­ção pas­si­va, onde é acu­sa­do de rece­ber pro­pi­na da Com­pa­nhia Bra­si­lei­ra de Trens Urba­nos (CBTU).

O caso ain­da tra­mi­ta na Cor­te, mas há um enten­di­men­to que os minis­tros já fixa­ram no final de 2016, na ADPF (Argui­ção de Des­cum­pri­men­to de Pre­cei­to Fun­da­men­tal) 402. O caso jul­ga­va o pos­sí­vel afas­ta­men­to do então pre­si­den­te do Sena­do Renan Calhei­ros (MDB-AL).

Na oca­sião, a Cor­te tomou uma deci­são de dois fato­res. “O Supre­mo enten­de que a hono­ra­bi­li­da­de que se exi­ge do pos­to pre­si­den­ci­al pode­ria ser com­pro­me­ti­da, mal­fe­rin­do a dig­ni­da­de des­te alto car­go, ao con­sen­ti-lo a alguém sob quem repou­sam indí­ci­os de auto­ria e mate­ri­a­li­da­de no come­ti­men­to de cri­me “, dis­se Rapha­el Sodré Cit­ta­di­no, sócio-fun­da­dor do Cit­ta­di­no, Cam­pos & Anto­ni­o­li Advo­ga­dos e pre­si­den­te do IELP (Ins­ti­tu­to de Estu­dos Legis­la­ti­vos e Polí­ti­cas Públicas).

Des­ta for­ma, Lira não pode­ria ocu­par emer­gen­ci­al­men­te o Pla­nal­to. “O fato de Arthur Lira figu­rar como réu em pro­ces­so cri­me peran­te o Supre­mo Tri­bu­nal Fede­ral não cons­ti­tui óbi­ce para que ocu­pe e desem­pe­nhe a pre­si­dên­cia da Câma­ra dos Depu­ta­dos – mas o impe­de de inte­grar a linha suces­só­ria para ocu­par a Pre­si­dên­cia da Repú­bli­ca”, expli­ca o cons­ti­tu­ci­o­na­lis­ta Adib Abdou­ni. Caso ocor­ra a neces­si­da­de, que pode ser fru­to de uma via­gem, afas­ta­men­to médi­co ou mor­te, “a subs­ti­tui­ção cabe­rá ao Sena­dor Rodri­go Pache­co e, na sequên­cia, ao Minis­tro Luiz Fux, pre­si­den­te do STF”.

Repor­ta­gem publi­ca­da em: https://br.lexlatin.com/portal/reportagens/o‑que-pensam-arthur-lira-e-rodrigo-pacheco

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