IELP NA MÍDIA | Para advogados, emenda emergencial altera pouco o quadro fiscal brasileiro

Pro­mul­ga­da na segun­da-fei­ra (15/3), a Emen­da Cons­ti­tu­ci­o­nal 109 vai via­bi­li­zar o paga­men­to de um novo auxí­lio emer­gen­ci­al à popu­la­ção mais vul­ne­rá­vel duran­te a cri­se da Covid-19 no país.

Essa é a pri­mei­ra emen­da cons­ti­tu­ci­o­nal da pre­si­dên­cia de Jair Bol­so­na­ro e foi fru­to de inten­sa nego­ci­a­ção entre o gover­no e par­la­men­ta­res. Um dia após sua apro­va­ção, o PT e a Rede Sus­ten­ta­bi­li­da­de ajui­za­ram uma ação dire­ta de incons­ti­tu­ci­o­na­li­da­de con­tra a emen­da no Supre­mo Tri­bu­nal Fede­ral. As legen­das ques­ti­o­nam a pos­si­bi­li­da­de de o gover­no fede­ral usar o supe­rá­vit dos fun­dos públi­cos para amor­ti­zar a dívi­da pública.

Outro pon­to cri­ti­ca­do é o aumen­to do pra­zo para o paga­men­to de pre­ca­tó­ri­os. A medi­da foi ques­ti­o­na­da pela Asso­ci­a­ção de Advo­ga­dos de São Pau­lo (Aasp), que clas­si­fi­cou a ini­ci­a­ti­va como um “jabu­ti”, fru­to de “con­tra­ban­do legislativo”.

A Con­Jur ouviu espe­ci­a­lis­tas no tema e o enten­di­men­to geral é de que, em tese, a emen­da é cons­ti­tu­ci­o­nal, embo­ra pou­co mude o qua­dro fis­cal bra­si­lei­ro. Para Rapha­el Sodré Cit­ta­di­no, pro­fes­sor do IDP e sócio-fun­da­dor do escri­tó­rio Cit­ta­di­no, Cam­pos e Anto­ni­o­li Advo­ga­dos Asso­ci­a­dos, os parâ­me­tros de res­tri­ção de gas­tos com pes­so­al e novas con­tra­ta­ções são bas­tan­te flexíveis.

“Um estu­do do Ins­ti­tu­to Fis­cal Inde­pen­den­te pre­vê que, no rit­mo atu­al de aumen­to de gas­tos, em 2025 seri­am aci­o­na­dos os gati­lhos da EC para a União. No caso dos Esta­dos, nenhum deles está nes­se limi­te pro­pos­to. Mas, ain­da que Esta­dos e muni­cí­pi­os ultra­pas­sem os limi­tes que a EC esta­be­le­ceu, a úni­ca san­ção são algu­mas res­tri­ções de con­tra­tos com a União — espe­ci­al­men­te a toma­da de emprés­ti­mos ten­do a União como fia­do­ra”, expli­ca ele.

Cita­di­no diz tam­bém que a emen­da não cria san­ções efe­ti­vas se com­pa­ra­das às da Lei de Res­pon­sa­bi­li­da­de Fis­cal, por exem­plo. “A ava­li­a­ção de quem acom­pa­nha o Con­gres­so é que, na ver­da­de, o gover­no — na neces­si­da­de de cri­a­ção de um novo bene­fí­cio soci­al para con­ter os efei­tos nefas­tos da redu­ção de ren­da da clas­se tra­ba­lha­do­ra — pre­ci­sou sina­li­zar para o mer­ca­do e para os inves­ti­do­res exter­nos que o aumen­to de gas­tos seria com­bi­na­do com um endu­re­ci­men­to das regras fis­cais”, afirma.

A cons­ti­tu­ci­o­na­lis­ta Vera Che­mim, por sua vez, acre­di­ta que a emen­da repe­te a dis­ci­pli­na fis­cal já pre­vis­ta na pró­pria Cons­ti­tui­ção Fede­ral de 1988. “Vári­os dis­po­si­ti­vos cri­a­dos ou modi­fi­ca­dos pre­ten­dem rati­fi­car a neces­si­da­de de con­tro­le da dívi­da públi­ca por meio de algu­mas medi­das a serem efe­ti­va­das, assim como veda­ções que, na ver­da­de, cor­res­pon­dem ao rigor pre­sen­te nos arti­gos da Lei de Res­pon­sa­bi­li­da­de Fis­cal tão dura­men­te cri­ti­ca­da e ata­ca­da por meio de ações do con­tro­le abs­tra­to (ou con­cen­tra­do) de cons­ti­tu­ci­o­na­li­da­de ende­re­ça­das ao STF”, diz a advogada.

Vera sus­ten­ta que, a des­pei­to de outras modi­fi­ca­ções do ADCT, rela­ci­o­na­das ao paga­men­to de pre­ca­tó­ri­os devi­dos por Esta­dos, Dis­tri­to Fede­ral e muni­cí­pi­os, a Emen­da Cons­ti­tu­ci­o­nal 109 care­ce de ele­men­tos que venham a cons­ti­tuir, de fato e de direi­to, nor­mas que já não tenham sido pre­vis­tas na pró­pria Cons­ti­tui­ção Fede­ral de 1988 e, prin­ci­pal­men­te, na Lei de Res­pon­sa­bi­li­da­de Fiscal.

“Tra­ta-se, na ver­da­de, de um ple­o­nas­mo que tem como prin­ci­pal fina­li­da­de, tal­vez, fazer de con­ta que vai exi­gir uma dis­ci­pli­na orça­men­tá­ria e finan­cei­ras dos entes fede­ra­dos que até ago­ra nun­ca foi cum­pri­da na prá­ti­ca, com o úni­co méri­to de pre­ver cons­ti­tu­ci­o­nal e legal­men­te a des­ti­na­ção de auxí­lio emer­gen­ci­al em cri­ses des­sa natureza”.

Por fim, Ander­son Car­ne­va­le de Mou­ra, advo­ga­do na ban­ca Car­ne­va­le de Mou­ra Advo­ca­cia e pro­cu­ra­dor do Muni­cí­pio de São Ber­nar­do do Cam­po, des­ta­ca que “o pra­zo dos pre­ca­tó­ri­os no qual Esta­dos e muni­cí­pi­os são deve­do­res será aumen­ta­do em cin­co anos, fazen­do com que o Fis­co tenha um cer­to ‘res­pi­ro’ para o seu pagamento”.

Aces­se a repor­ta­gem em: https://www.conjur.com.br/2021-mar-16/emenda-109-altera-quadro-fiscal-brasileiro-dizem-advogados

 

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