IELP NA MÍDIA | Situação emergencial pode justificar liberação de vacina sem aval da Anvisa

Ação pode­ria ser­vir de pre­ce­den­te para obten­ção de outros medi­ca­men­tos, dizem advogados

O gover­na­dor do Mara­nhão, Flá­vio Dino (PCdoB), anun­ci­ou nes­ta ter­ça-fei­ra (8) que entrou com uma ação no STF (Supre­mo Tri­bu­nal Fede­ral) pedin­do a libe­ra­ção da com­pra de vaci­nas con­tra a Covid-19 que ain­da não foram apro­va­das pela Anvi­sa (Agên­cia Naci­o­nal de Vigi­lân­cia Sani­tá­ria), mas que tenham auto­ri­za­ção de agên­ci­as sani­tá­ri­as inter­na­ci­o­nais. Ele não expli­cou se pediu tam­bém per­mis­são para a apli­ca­ção dos imunizantes.

Tam­bém nes­ta ter­ça, o minis­tro da Saú­de, gene­ral Edu­ar­do Pazu­el­lo, afir­mou em reu­nião vir­tu­al com gover­na­do­res que a Anvi­sa deve demo­rar 60 dias para cer­ti­fi­car qual­quer vaci­na con­tra a doen­ça. Advo­ga­dos se divi­dem sobre o tema. Se a gra­vi­da­de da situ­a­ção exi­ge medi­das excep­ci­o­nais, a deci­são tam­bém pode tra­zer con­sequên­ci­as nega­ti­vas para o sis­te­ma de saúde.

“Essa ação pode­rá abrir um pre­ce­den­te teme­rá­rio para obten­ção de qual­quer medi­ca­men­to, inclu­si­ve de alto cus­to, sen­do ain­da con­trá­ria à par­te da juris­pru­dên­cia do STF que defi­ne que somen­te os medi­ca­men­tos cons­tan­tes do rol da ANS (Agên­cia Naci­o­nal de Saú­de Suple­men­tar), ain­da que ape­nas exem­pli­fi­ca­ti­vos, podem ser plei­te­a­dos, via judi­ci­a­li­za­ção, ao setor públi­co ou pri­va­do”, afir­ma Fer­nan­da Zuca­re, espe­ci­a­lis­ta em Direi­to de Saú­de e sócia do Zuca­re Advo­ga­dos Associados.

A advo­ga­da tam­bém ques­ti­o­na a capa­ci­da­de finan­cei­ra dos esta­dos. “Os esta­dos não teri­am estru­tu­ra finan­cei­ra para aten­der essa deman­da de medi­ca­men­tos, inclu­si­ve aque­les de alto cus­to. Des­sa for­ma, quem arca­ria com essa des­pe­sa? Vale res­sal­tar que já temos um sis­te­ma de saú­de extre­ma­men­te caren­te”, destaca.

Sau­lo Ste­fa­no­ne Alle, do Pei­xo­to & Cury Advo­ga­dos, enten­de que a situ­a­ção jus­ti­fi­ca medi­das excep­ci­o­nais pre­vis­tas em lei. “A pró­pria lei fede­ral que tra­ta das medi­das para enfren­ta­men­to da pan­de­mia pre­vê auto­ri­za­ção excep­ci­o­nal para a impor­ta­ção e dis­tri­bui­ção de quais­quer mate­ri­ais, medi­ca­men­tos, equi­pa­men­tos e insu­mos da área de saú­de sujei­tos à vigi­lân­cia sani­tá­ria sem regis­tro na Anvi­sa, e que sejam con­si­de­ra­dos essen­ci­ais para auxi­li­ar no com­ba­te à pan­de­mia do coronavírus.

A con­di­ção é que o medi­ca­men­to ou insu­mo este­ja regis­tra­do em uma das seguin­tes agên­ci­as: ame­ri­ca­na (FDA), euro­peia (EMA), japo­ne­sa (PMDA) ou chi­ne­sa (NMPA)”, expli­ca Sau­lo. A opi­nião é com­par­ti­lha­da por Rapha­el Sodré Cit­ta­di­no, sócio fun­da­dor do Cit­ta­di­no, Cam­pos & Anto­ni­o­li Advo­ga­dos Asso­ci­a­dos e pre­si­den­te do Ins­ti­tu­to de Estu­dos Legis­la­ti­vos e Polí­ti­cas Públi­cas (IELP). “A Lei 14.006, apro­va­da em 28 de maio des­te ano, já pre­vê que a Anvi­sa pos­sui 72h para res­pon­der a pedi­do de auto­ri­za­ção emer­gen­ci­al de medi­ca­men­to pre­vi­a­men­te apro­va­do pelas auto­ri­da­des sani­tá­ri­as dos EUA, União Euro­peia, Chi­na e Japão, e caso não se mani­fes­te, con­si­de­ra-se apro­va­do o pedi­do”, diz.

Um pro­je­to de lei que auto­ri­za esta­dos e muni­cí­pi­os a impor­ta­rem, mes­mo sem auto­ri­za­ção do Minis­té­rio da Saú­de, vaci­nas con­tra a Covid-19 tra­mi­ta atu­al­men­te na Câma­ra dos Depu­ta­dos. Segun­do o PL 5413/20, cada cida­de ou uni­da­de da fede­ra­ção defi­ni­ria sua pró­pria estra­té­gia de imunização.

Mar­cus Vini­cius Mace­do Pes­sa­nha, advo­ga­do do escri­tó­rio Nel­son Wili­ans Advo­ga­dos, espe­ci­a­lis­ta em direi­to públi­co admi­nis­tra­ti­vo e regu­la­tó­rio, res­sal­ta que mais uma vez o STF é cha­ma­do a exer­cer seu papel de Cor­te Cons­ti­tu­ci­o­nal e polí­ti­ca em maté­ri­as de gran­de rele­vân­cia públi­ca, como as liga­das ao com­ba­te à pan­de­mia. “E é impor­tan­te que seja assim, pois o juí­zo téc­ni­co-jurí­di­co uti­li­za­do pela Supre­ma Cor­te traz equi­lí­brio e razo­a­bi­li­da­de para um deba­te infla­ma­do e per­me­a­do por enten­di­men­tos nem sem­pre estão ali­nha­dos com as evi­dên­ci­as cien­tí­fi­cas e a pre­ser­va­ção da saú­de públi­ca”, comenta.

O advo­ga­do cons­ti­tu­ci­o­na­lis­ta Adib Abdou­ni enten­de ser remo­ta a chan­ce de êxi­to da medi­da pro­pos­ta pelo esta­do do Mara­nhão. “O defe­ri­men­to judi­ci­al iria depen­der, uma vez pre­sen­te inequí­vo­ca demons­tra­ção das evi­dên­ci­as cien­tí­fi­cas de efi­cá­cia e segu­ran­ça do imu­ni­zan­te estran­gei­ro pen­den­te de regis­tro, da cons­ta­ta­ção do atra­so injus­ti­fi­cá­vel da Anvi­sa, a reve­lar, a par­tir daí, a inca­pa­ci­da­de do gover­no fede­ral quan­to à imple­men­ta­ção de um pla­no naci­o­nal de vaci­na­ção, haja vis­ta que a supres­são de von­ta­de ou a supe­ra­ção da inér­cia da agên­cia regu­la­do­ra – pelo Poder Judi­ciá­rio – assu­mi­ria um cará­ter abso­lu­ta­men­te excep­ci­o­nal, cujo cená­rio atu­al pare­ce desautorizar”.

Publi­ca­do ori­gi­nal­men­te por Lex Latin: https://br.lexlatin.com/portal/noticias/situacao-emergencial-pode-justificar-liberacao-de-vacina-sem-aval-da-anvisa

Related Posts

Post a Comment